Pois é, a Panini anuncia para este mes a edição onde acontece o casamento entre Estrela Polar ( mutante menbro do grupo chamado Tropa Alpha ) e seu namorado Kyle. Esta história foi publicada no ano passado nos estados unidos e causou bastante polêmica.
Na época, fiz um texto sobre esta temática ;
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Outro dia, poucas semanas atras, o presidente dos Estados Unidos da América, Barak Obama, disse em rede nacional de televisão que era favoravel ao casamento gay. Isto disparou uma série de outras declarações em diversas mídias, das mais variadas, fazendo uma apologia ao casamento entre homossexuais e a união estavel entre dois homens ou duas mulheres. Até ai, nada de mais. Não somos mais os mesmos selvagens de séculos antes, quando este tipo de comportamento geraria uma onda de manifestações homofóbicas e de protestos. Na verdade, pode-se entender que a declaração do presidente apenas reproduz o entendimento que hoje uma grande parcela da sociedade têm sobre este assunto. Já deixou de ser, pelo menos para alguns, um Tabu, o casamento Gay e a união estavel de pessoas do mesmo sexo. Isto posto e aclarado, passemos então a analisar uma consequência desta " exposição" da declaração do presidente americano sobre o casamento gay em uma industria como a das histórias em quadrinhos:
Uma das maiores empresas de comunicações e entreterimento do Mundo, a Disney, é também proprietaria da Marvel Comics! A Marvel é a dona de alguns dos mais conhecidos personagens dos quadrinhos do mundo : Homem Aranha, X-men, O Incrivel Hulk, Os Quatros Fantásticos, O Poderoso Thor e Os Vingadores , O Capitão América , são alguns dos personagens que pertencem a editora e a Disney. Estes heróis, amados por uma legião de fãs, desde os mais veteranos ( que acompanham a editora deste seu nascimento em 1961 ) ou os mais novos, que conheceram os personagens através dos filmes, desenhos, seriados e revistas, são todos os meses abastecidos com novas aventuras de seus heróis preferidos. Estas aventuras geralmente mostram combates cósmicos, confrontos tecnológicos, batalhas épicas em mais variados cenários, todas tendo como protagonistas estes homens e mulheres de uniformes vistosos e cores brilhantes. Durante décadas a formula da Marvel Comc s para conquistar seus leitores foi mesclar com suas histórias de fantasia heróicas, em cenários medievais, futuristas e comtemporaneos , pinceladas de uma realidade conhecida por seus leitores. As aventuras ditas urbanas tinham como cenário as cidades de Nova Iorque, San Francisco, Boston, etc... O editor sempre dizia que seus leitores iriam encontrar nas aventuras ficcionais de seus heróis preferidos, circunstancias e caracteristicas da realidade. Este era o "charme" da editora Marvel. Seus heróis tinham defeitos e qualidades de pessoas comuns, com seus medos, inseguranças e também com suas qualidades. E então, se, a promessa da editora era de entregar aos leitores personagens que refletissem a realidade, não demorou muito para quê no universo Marvel surgissem personagens Gays! E eles surgiram de modo bastante discreto, pois era uma época onde não se podia falar abertamente de orientação sexual e muito menos em um meio como o dos quadrinhos. Assim, durante anos o personagem Estrela Polar manteve-se "no armario". Porém com a chegada do novo século um novo entendimento também chegou aos quadrinhos. E finalmente a editora permitiu que seus autores tratassem de maneira mais clara a orientação sexual de seus personagens. E os leitores não ficaram chocados ao saberem que aquele herói canadense, Jean-Paul Beaubeir, irmão da Aurora, era realmente Gay. Tudo seguia normalmente na vida dos heróis de papel dos leitores Marvel até que o presidente Obama diz que é favoravel ao casamento Gay. Os executivos da Disney/Marvel imediatamente viram uma oportunidade de gerar publicidade para seus quadrinhos e divulgaram na mídia especializada que iriam publicar o primeiro gibi com um casamento homosexual masculino. A Marvel Comics iria estampar uma capa de um gibi com a cena da união entre dois homens e um deles era o herói mutante Estrela Polar. A repercussão logo se fez sentir. Diversos jornais americanos, desde os mais conhecidos aos de cidades do interior, deram espaço em suas colunas para discutir a relação entre Jean-Paul e seu noivo Kyle. Algumas associações de mães e movimentos conservadores , nos Estados Unidos, protestaram e tentaram impedir a publicação - já havia acontecido algo semelhante antes, quando um gibi do titulo voltado ao público infantil , chamado ARCHIE, também foi alvo de boicote destas associações mas o efeito foi o inverso e a edição se esgotou rapidademente nas lojas especializadas. O publico dá sua aprovação final. Mas pergunta-se então qual é hoje este público que consome estes novos quadrinhos. Serão adolescentes, crianças, ou adultos? E pode-se ter um tema de tal complexidade, como o da orientanção sexual de um individuo, em uma públicação que vai atingir mais de uma faixa etária de leitores ? E existe alguma preocupação da parte da editora em não causar nenhum constragimento a este leitor, ocasional ou não ? Vamos ver a seguir.
Nos anos 50, nos Estados Unidos, as editoras de então, foram submetidas a um código de ética, o código de ética das HQ (Comics Code Authority) para que houvesse um controle sobre o que era publicado nos gibis. Havia neste momento uma grande quantidade de revistas de Terror, Crime, Guerra, Horror,ficção, que apresentavam situações explicitas de violência doméstica ou não e alusão ao crime e pervesões. A grande maioria destes titulos era de uma editora chamada E.C. Comics. Esta editora estava dando de lavada nas demais nas vendas. Seus titulos vendiam centenas de milhares de exemplares todo mês no país inteiro. Preocupados com esta situação, as demais editoras procuraram uma maneira de boicotar a E.C. E justamente neste momento, um psiquiatra alemão, Dr. Fredric Wertham, lançou um livro chamado A SEDUÇÃO DO INOCENTE, onde relata dezenas de insinuações e teorias, mostrando que os responsaveis pela deliquencia juvenil nos Estados Unidos, seriam os quadrinhos, por conta de seu conteúdo apelativo. Este livro de Wertham foi acolhido por alguns politicos que viram aí uma outra " caça ás bruxas" e com a concordancia da maior parte das editoras, foi instaurado o código de ética das Hq. Isto fez com que os quadrinhos nas duas décadas seguintes sofressem um "boicote interno" de suas próprias editoras. Mas a partir do meio dos anos 70, a própria editora Marvel, na figura de seu criador e principal editor, Stan Lee, se insurgiu contra este código, publicando uma trilogia de histórias no titulo do Homem Aranha em quê o consumo de DROGAS por parte de um colega de aulas de Peter Parker ( o Homem Aranha ) é mostrado explicitamente. Estas três edições não receberam o selo do código de ética. Mas mesmo assim foram para as bancas e tornaram-se um sucesso de venda. Era o estilo Marvel, de colocar em suas revistas, um vislumbre da realidade. E assim foram sendo aos poucos vencidas todas as barreiras impostas por aquele arcaico código, sempre com comprometimento e consideração por quem estaria do outro lado da folha de papel. Durante todos estes anos a Marvel Comics foi sempre pioneira em mostrar situações cotidianas inseridas em aventuras de seus personagens. Mas até agora o tema SEXO sempre havia sido tratado com muita cautela. Possivelmente os editores entendiam que seu público leitor não estava interessado ou não se preocupava com a orientação sexual dos seus heróis.
Mas os tempos mudam e o que antes não podia ser insinuado agora pode ser mostrado abertamente e então alguns heróis ganharam mais dimensão em suas vidas de papel. Os novos tempos já podem aceitar personagens homosexuais. Titulos como o dos X-men - uma das maiores franquias da Marvel Comics, sucesso nos quadrinhos, games, filmes e desenho animado - mostra mais de uma dupla de personagens gays em suas paginas. E isto foi uma revolução pois foi o primeiro titulo exclusivamente de super-heróis, voltado para leitores adolescentes ou pré adolescente, a tratar abertamente deste tema. E esta talvez seja a única ressalva que este texto tem como pretenção fazer : Será que é valido, por conta de refletir uma realidade, que talvez não seja da maioria, mas de uma parte da sociedade, oferecer a milhares de jovens pré adolescentes, situações de teor homo afetivo ? Estarão interessados, estes leitores que sempre lerão estas aventuras como elas mesmo se nomimam : Histórias em quadrinnhos de super-heróis, onde os heróis enfrentam super-vilôes que querem a cada edição dominar o mundo conhecido. Onde seres alienignas querem subjugar a espécie humana ou então Entidades Cósmicas a todo momento vem testar a Terra para saber se ainda merecemos seguir existindo no Universo. Será que estes "gibis" são realmente o meio ideal para se falar de algo tão complexo quanto a orientação sexual de um indivíduo ? Quando um pai compra para seu filho de 10, 12 anos, um gibi dos X-men, será que ele imagina que dentro daquelas 30 paginas, o garoto vai encontrar além de lutas, brigas, também cenas de romance entre dois rapazes ? Estarão preparados estes jovens leitores para entenderem esta representação da realidade ? E de qual realidade se está tratando ? Ou será que somos ainda hipócritas ao não aceitar que determinados temas sejam expostos nos nosso “ gibis” ? É um assunto polêmico e que necessita de reflexão. Tratar assuntos profundos como estes, de maneira superficial, por parte da editora, parece a primeira vista apenas mais uma jogada comercial.
São estas perguntas que precisam de respostas em uma época de tanto imediatismo e globalização. São perguntas que a mídia deixa de se fazer, pois talvez saiba que as respostas não podem ser dadas de maneira imediática e simplória . A mídia hoje, pelo menos uma parte, parece não estar preocupada com a ética. Preocupa-se muito com os resultados, todos imediatos. Somos todos telespectadores, se passivos ou não, será uma decisão nossa. Consumidores compulsivos ou não, influenciavies ou não, todos com a nossa parcela de comprometimento na formação do que queremos seja a nossa realidade, ou realidades.
Nossa resposta é o que norteará o que será produzido daqui pra frente. A responsabilidade também é nossa!"
Jesus Nabor Ferreira
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